Grupo tentará evitar ataque ao Iraque

LONDRES. No pequeno quartel-general de D’arblay Street, Soho londrino, a intensa movimentação pela paz nos últimos dias era multirracial e multiétnica. Ali circulava um exército de aposentados, desempregados e estudantes. Eles formam um grupo voluntário de escudos humanos que pretende impedir um ataque dos EUA ao Iraque, partindo hoje para Bagdá.

São quase cinco mil quilômetros a serem percorridos numa viagem de ônibus de duas semanas — com rápidas paradas em oito países — até a capital iraquiana. Cerca de 60 pessoas partem de Londres. A caminho de Bagdá, outros voluntários se juntarão ao grupo. O gaúcho Flávio Ravara Souza integra a comitiva.

À frente do grupo está Ken Nichols, ex-integrante da Marinha americana que lutou na Guerra do Golfo, em 1991. Em parceria com a ONG Human Shields (Escudos Humanos), ele organizou a missão.

— A maior ameaça à segurança mundial no momento é o presidente George W. Bush. Esperamos que os EUA repensem essa guerra, fundamentada na questão imperialista do petróleo, quando virem os corpos de pessoas brancas, do Ocidente, cedidos voluntariamente em nome da paz — diz Nichols.

Richard Scrase, organizador da viagem, afirma estar impressionado com a generosidade internacional para tentar impedir os planos de Washington.

— Até agora recebemos cem mil libras (R$ 591 mil) de pequenas empresas para a organização da viagem. Os próprios escudos humanos estão fazendo doações — diz Scrase.

A cabeleireira Rajia Dajani, de 22 anos, assume apaixonadamente sua posição antiguerra ao resumir para o GLOBO as razões que a levaram a se juntar ao grupo.

— Embora eu seja inglesa, meu coração pertence à Palestina. Meus pais são palestinos. Conhecem a morte de perto, por isso tentaram me trancar no quarto nos últimos dois dias, para que eu não viajasse. Mas minha vida nada vale diante da morte de milhares de inocentes que se avizinha.

Ao seu lado, o desempregado Ube Evans, de 50 anos, filosofa:

— Ao ceder o meu corpo para impedir essa guerra insana, a sensação é a mesma de abrir as cortinas do palco pela paz.

- Cassia Maria Rodrigues (O Globo)