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  • O BRASIL EH O QUE ME ENVENENA MAS EH O QUE ME CURA (LUIZ ANTONIO SIMAS)

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    Fragmentos de textos e imagens catadas nesta tela, capturadas desta web, varridas de jornais, revistas, livros, sons, filtradas pelos olhos e ouvidos e escorrendo pelos dedos para serem derramadas sobre as teclas... e viverem eterna e instanta neamente num logradouro digital. Desagua douro de pensa mentos.


    segunda-feira, março 31, 2008

    Gláuber Rocha é uma merda?

    A idolatria incondicional é comum entre adolescentes, e fãs fanáticos,
    alguns dos quais crescem mantendo a adoração adulativa intacta por seus ídolos.
    imãs imantados de imortalidade.

    De artistas, criadores, espíritos irrequietos (ou que deveriam ser)
    não se espera tal postura
    da hagiografia dogmática de outros colegas artistas
    elevados a eleitos sacrossantos.

    Foi ridícula portanto a ira santa
    promovida entre alguns intelectuais diante da afirmativa jocosa-iconoclasta do humorista Marcelo Madureira,
    que mandou num debate público num cinema:
    - Gláuber Rocha é uma merda!

    Para terem idéia do ridículo dos doi-dóis,
    leiam o artigo abaixo publicado em O Globo
    (que logo pinçou a frase e a promoveu a outro patamar, com destaques, à guisa de polemiza):


    Glauber no ventilador


    Diretores comentam e respondem frase polêmica de Marcelo Madureira sobre cineasta, que será lembrado em ato de desagravo hoje na ABI

    - Leonardo Lichote

    ‘Glauber Rocha é uma merda”. A frase, dita por Marcelo Madureira há alguns dias num debate sobre humor no Cine Odeon e reproduzida aqui no GLOBO na coluna de Ancelmo Gois, não foi recebida com risos por admiradores do diretor. Procurados pelo GLOBO para dar sua opinião a respeito da declaração, cineastas, contemporâneos do baiano ou jovens, rebateram as palavras do “Seu Casseta”. A família do diretor decide se vai ou não processar Madureira. E uma sessão de “Deus e o diabo na terra do sol” em desagravo a Glauber será realizada hoje, às 18h30m, na Associação Brasileira de Imprensa.

    — Espero que alguém vá — provocou Madureira, antes de desenvolver sua opinião sobre o cineasta. — Não disse que Glauber é uma merda, e sim que seus filmes são. Com exceção de “Di”, acho todos muito chatos, assim como quase todo o Cinema Novo, em geral filmes mal editados, mal filmados, que nem os cineastas entendiam. Mas gostava muito da pessoa dele, sua atuação como intelectual, acho “Abertura” (vanguardista programa de TV apresentado por Glauber em 1979 e 1980) sensacional, tenho alguns gravados. Essa é apenas minha modesta opinião, podem concordar ou não. Foi uma provocação também. Afinal estava num debate, queria me animar

    Para Cacá, houve um erro no tom

     Organizador do ato de desagravo, o crítico de cinema Dejean Magno Pellegrin, amigo de Glauber, acredita que não poderia simplesmente aceitar o que ele considerou uma ofensa ao cineasta: — As pessoas não podem dizer o que querem e ficar por isso mesmo. Daqui a pouco alguém fala que Niemeyer é uma merda. Mas o ato é a favor de Glauber, não é contra ninguém. Não citarei o nome desse respeitoso intelectual — diz. — Não é à toa que ele tem dois Ms no nome. Na mesma linha, o diretor Cláudio Assis ataca: — Ele falou isso para promover o “Casseta e Planeta”, isso sim uma merda. Quer aparecer como inteligente, mas não é ninguém. Não sou desses que acham que Glauber é Deus, mas ele morto é mil vezes mais vivo que Marcelo.

    Madureira, que conta estar recebendo solidariedade das pessoas nas ruas por sua frase, diz não se surpreender com a reação de Assis: — Ah, quem gosta de “Amarelo manga” (de Assis) gosta de Glauber. Esse filme também é um saco, a única coisa boa é Matheus Nachtergaele. Assis não passa de mais um desses beletristas nordestinos Amenizando a temperatura do debate, Cacá Diegues diz que Madureira errou no tom: — Todo mundo tem o direito de ter a opinião que bem entender sobre Glauber. Mas expressá-la desse modo é um desrespeito infantil e uma agressão desnecessária. Mas Madureira é um humorista, não é para ser levado a sério, pois não é possível que ele não saiba da importância do Cinema Novo e mais especialmente de Glauber para os cinemas modernos do Brasil e do mundo.

    Madureira não vê essa importância no Cinema Novo. A consagração do movimento veio, nas palavras do humorista, “graças a intelectuais europeus que viram ali algo exótico”. Os intelectuais brasileiros teriam embarcado deslumbrados. Lembrando que acompanhou Glauber numa defesa de tese sobre sua obra em Sorbonne (“Roland Barthes estava na banca”), o cinemanovista Paulo Cézar Saraceni diz que o diretor “deveria receber bustos, homenagens, e não palavras como essas”. O cineasta seria, portanto, intocável? Nas falas dos diretores, frases como a de Saraceni — ou “o valor da obra dele não está em questão” (Bruno Safadi, cineasta-revelação que diz se espelhar em Glauber, entre outros) e “(Glauber) é bom e pronto, isso é consagrado” (Cláudio Assis) — sugerem que sim. Mas todos eles são unânimes em afirmar que o baiano pode sim ser contestado, mas com respeito — o que, apontam, faltou nas palavras do humorista. Alguns vão mais longe e chegam a desautorizar a opinião de Madureira. — Para criticar Glauber, é necessário que se tenha dado alguma contribuição à cultura brasileira — argumenta Pellegrin. — Se Ferreira Gullar dissesse algo assim, o que nunca aconteceria, seria outra coisa

    Madureira diz que Glauber o apoiaria

     A sessão de desagravo tem o apoio de cineastas como Diegues (“Ainda bem que existem cinéfilos como Dejean, dispostos a contestar o equívoco, embora Glauber não precise de nenhuma reparação para sobreviver a uma afirmação tão desastrada”, argumenta). Para outros, porém, a resposta parece um tanto exagerada. — Ele falou de um papa, de forma grosseira, e isso chama atenção. Mas não se deve criar tanta histeria em torno disso — pondera Safadi. — Os filmes de Glauber estão aí para serem adorados e criticados. Ele não queria que sua obra fosse unânime. Em meio ao debate, os dois lados cogitam como o baiano reagiria. Pellegrin defende que “Glauber quebraria ele”. Já o humorista acredita que teria seu apoio: — Quando Glauber falou que Golbery era um gênio, os intelectuais também o atacaram — lembra.


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    Pelo direito de falar merda

    Eu ia escrever algo sobre alguns dos comentários acima,
    inclusive sobre essa necessidade arcaica de "sessões de desagravo"

    quando li na sexta o artigo de Arnaldo Bloch em O Globo
    pinçando e comentando alguns desses não-me-toques.


    Arnaldo Bloch

    Deus Glauber e seus infiéis
    Em defesa do direito de falar merda

    Muitas verdades foram reivindicadas na polêmica entre Marcelo Madureira (da Casseta) e os fiéis de Glauber Rocha. Dessas verdades, apenas uma é absoluta: ao dizer que os filmes de Glauber são “uma merda”, Madureira falou “merda” — evidência que a sentença encerra.

    De resto, é só uma grande mancha de dúvidas. Por exemplo: será que a “merda” que Madureira falou (no sentido de tê-la, palavra, na boca) é também “merda” no sentido de opinião irrisória, errada, falsa, feia, exagerada, proibida? A julgar por afirmações publicadas quinta-feira neste caderno, uma nuvem de moralismo (e até reacionarismo) se alevanta no céu da inteligência cinematográfica.

    Coitado do repórter Leonardo Lichote por certas coisas que teve que ouvir e transcrever. Apesar de achar todos os filmes de Glauber ótimos, bem feitos e vibrantes, vejo-me na obrigação de prestar solidariedade ao Madureira, com intento exclusivo de defender as liberdades fundamentais. Para tal, analiso, abaixo, os dizeres da tropa de elite, a começar pelo crítico Dejean Magno Pellegrin: “As pessoas não podem dizer o que querem e ficar por isso mesmo. Daqui a pouco alguém fala que Niemeyer é uma merda”.

    Então, qual a pena para quem disser que Niemeyer é uma merda? Masmorra? Um processo de U$ 100 milhões por perdas e danos? Conheço quem já tenha escrito bobagens sobre Niemeyer que superam qualquer palavrão. Niemeyer vive dizendo, com essas palavras, que Bauhaus é uma merda. Mas vejam o que proferiu o mesmo Pellegrin, a seguir: “Para criticar Glauber é necessário que se tenha dado alguma contribuição à cultura brasileira. Se Ferreira Gullar dissesse algo assim, o que nunca aconteceria, seria outra coisa”.

    Ou seja, só poetas e seres iluminados, ou prestadores de contribuições formais incontestes à cultura brasileira, podem criticar Glauber. Minha faxineira não pode achar Glauber uma merda. Nem gostar: pois, quem não pode criticar, não pode entender. E quem não pode entender, não pode gostar.

    Atento às medidas, Cacá Diegues, por sua vez, viu em Madureira um ‘erro no tom’ (qual o ‘tom certo’?) e decifrou suas palavras à luz do humorismo. “Não é para ser levado a sério, pois não é possível que Madureira não saiba da importância do Cinema Novo e (de Glauber) para os cinemas modernos do Brasil e do mundo”. A importância de Glauber e do Cinema Novo (movimento do qual Cacá é oriundo) pode até apresentar suas evidências entre profissionais, crítica e público afeito mundo afora — ou nas influências que gerou —, mas isso não tem qualquer relação com o Madureira achar seus filmes bons ou ruins. Cacilda, é tão óbvio! E não torna o que ele disse mais ou menos “sério” — num plano em que o humor seja considerado, com seriedade, em sua dinâmica e dramaturgia.

    Mas vamos às loas do Paulo Cézar Saraceni: “Glauber deveria receber bustos, homenagens e não palavras como essas”. Ô Saraceni!, quem mais do que Glauber recebe bustos e homenagens? Entre os mortos, é uma das maiores unanimidades críticas! Se vacilar, o Madureira é o primeiro a macular o mito sem prestar-lhe os devidos incensos. Imagine, Saraceni, se todos pensarem como o seu colega Cláudio Assis, que diz: “Glauber é bom e pronto, isso é consagrado.” “Bom e pronto”? Que tipo de reflexão crítica é essa? Em que contexto esta relação se estabelece? No âmbito do “consagrado”? Tem muita merda por aí que é consagrada. Quem mais é “bom e pronto”? Outra do Assis: “Ele falou isso para promover o Casseta e Planeta, isso sim uma merda” Então o Madureira, pessoa física, diz que o Glauber é uma merda, e a Casseta, automaticamente, é uma merda. Qualquer semelhança com “chato bobo e feio é você” terá sido mera infantilidade. O que o finado Bussunda (consagradíssimo...) tem a ver com isso? O Bussunda é “bom e pronto”? Enquanto escrevo esta crônica, rola, lá na ABI, uma sessão de “Deus e o Diabo” em desagravo a Glauber.

    A família está pensando em processar. Putz! Desagravo? Até os padres e rabinos dizem que em algum momento brigamos com Deus e dizemos injúrias! Blasfemar faz parte do jogo! Esse negócio de desagravo e processo está com a maior cara de TFP. De guerra santa contra as charges de Maomé. De picuinha de técnicos e jogadores com o chororô do Souza. O que será que Glauber acharia desse desagravo? Sim, pois se Glauber é uma divindade, é uma divindade da alta iconoclastia. Acho que ele expulsaria, aos brados, os inquisidores, mandando-os queimar vaidades noutra freguesia.

    E os julgaria infiéis. E, ao Madureira, faria coroar portaestandarte dos cineastas, críticos, humoristas, das faxineiras, do cronista — enfim, de todos os homens e mulheres livres. Livres para falar merda.


    Só vou comentar mais duas coisinhas.
    Me admira aqui Cacá Diegues, que tanto bradou em seu tempo contra "patrulhas ideológicas".

    E a opinião semântica de Luke Bosshard:
    Marcelo disse "Gláuber Rocha é uma merda".
    Referia-se portanto à sua obra, ou à figura (persona, nao a pessoa).
    Se tivesse dito "Gláuber Rocha é um merda"
    isto sim seria embostear a pessoa referida.

    adendo:
    Ana Pinta pediu para inclui duas opiniões
    João Gilberto é uma merda
    Tarantino é uma merda

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